Em ascensão
no cenário internacional, a natação brasileira também está no topo em relação a
um assunto muito menos nobre: o doping.
Desde 2001,
o país soma 30 casos positivos, segundo levantamento feito pela Folha com base
nos relatórios anuais liberados pela Fina (Federação Internacional de Natação)
no seu site oficial.
Considerando
esse período de 14 anos, o Brasil é o vice-campeão de ocorrências entre os
países que formam a elite da natação mundial.
Só a China
teve mais infrações (33). Em seguida, vêm Rússia (com 28 flagrantes), França
(14), Estados Unidos (12) e Austrália (4).
O mais
recente caso brasileiro veio à tona na última semana. O capixaba João Luiz
Gomes Júnior, 29, acabou apanhado no Mundial em piscina curta (25 m) de Doha,
em dezembro, com um diurético ainda não revelado.
O resultado
do exame do especialista em nado peito pode tirar três medalhas do Brasil, que
liderou o quadro geral no Qatar. Se isso, de fato, acontecer, o país cairia
para quinto lugar.
Gomes Jr.
nadou as eliminatórias de três revezamentos que foram ao pódio: 4 x 50 m
medley, 4 x 100 m medley e 4 x 50 m medley misto.
O Brasil
viu seu primeiro registro de doping neste século em 2003, quando Laura Azevedo
foi pega com três substâncias e recebeu dois anos de suspensão da Fina.
As drogas
ingeridas pelos nadadores vão do esteroide anabolizante estanozolol por sinal,
a mais encontrada nos flagrantes com brasileiros, nove em 30 casos a substâncias
menos potentes, como a canabis (veja no glossário abaixo como elas agem).
2008, A
EXCEÇÃO
Em 11 dos
últimos 12 anos, o país teve pelo menos um caso de doping. Só em 2008 nenhum
atleta foi flagrado.
Duas
nadadoras a própria Laura Azevedo e Rebeca Gusmão foram banidas do esporte por
reincidência.
Em 2012, o
Brasil acumulou seis registrou positivos com nadadores de piscina e águas
abertas até mesmo um técnico recebeu punição.
A Fina
prevê punição para países que tenham quatro ou mais episódios de doping nas competições
que promove em uma mesma temporada.
O Brasil só
escapou da punição por país em 2012 porque todos os flagrantes ocorreram em
eventos nacionais.
Descuido e
desinformação. Para especialistas ouvidos pela reportagem, esses são as
principais razões para a reincidência dos casos de doping.
O atleta é
negligente, na acepção legal do termo, por não saber o que, afirmou Eduardo de
Rose, membro da Wada (Agência Mundial Antidoping) e também consultor da CBDA
(Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos).
Eu diria
que 85% dos casos de doping não são conscientes, mas descuidos. Infelizmente,
nossos atletas têm problemas com suplementos, que são uma caixa-preta.
Os
advogados de Gomes Júnior devem atribuir o teste positivo a contaminação por
meio de um suplemento comprado em farmácia, alegando doping não intencional.
É a mesma
alegação usada em 2011 por Cesar Cielo, Nicholas dos Santos, Henrique Barbosa e
Vinícius Waked.
Todos foram
pegos com o diurético furosemida e, à exceção de Waked, receberam uma advertência
de punição.
Vice-presidente
do comitê de atletas da Fina, o medalhista olímpico Thiago Pereira disse que,
com vistas aos Jogos do Rio-2016, o alto número preocupa, mas os casos servirão
de alerta aos outros atletas e com certeza o cuidado irá redobrar.
ATÉ 2001,
PAÍS HAVIA TIDO APENAS UM CASO
O único
registro oficial de doping da natação brasileira antes deste milênio data de
1997. Naquele ano, o velocista Hugo Duprée foi flagrado com a substância
nandrolona, um esteroide anabolizante, no Troféu Brasil. Depois de pedir a
contraprova, ficou constatada a presença da medicação e ele acabou suspenso por
quatro anos.
ARTE ALEX KIDD
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