Os
botos-cinza da baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, estão entre os
animais marítimos mais contaminados do mundo, informa o coordenador das
atividades de mamíferos aquáticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
José Lailson Brito.
"Garanto
que se formos analisar o tecido adiposo, o sangue e a urina de boa parte dos
que estão aqui e que eventualmente interagem com a baía de Guanabara, que se
alimentam de pescado da baía, certamente têm os mesmos contaminantes",
disse. "Esses mesmos produtos que estão lá no tecido desses animais,
fazendo um efeito ruim, estão na gente. É um problema de saúde pública".
O
pesquisador lamentou a perda de mais um boto, vítima da poluição, notificada
por um colaborador do projeto de monitoramento. "O que acontece aqui está
sendo reproduzido na baía de Sepetiba, não aprendemos nada. A baía de Ilha
Grande vai pelo mesmo caminho".
Presente
no brasão da cidade do Rio e ícone da fauna marítima da baía, o boto-cinza é
hoje um animal em extinção. De uma população de mais de 800 animais na década
de 1970, com essa última morte registrada restam apenas 36.
"Os
botos são o retrato do que é a baía de Guanabara, que virou um estacionamento
de navios, são mais de 80 navios fundeados", disse. O oceanógrafo alertou
que a poluição acústica produzida por essas embarcações também é preocupante.
"O ruído debaixo d'água nas áreas de fundeio é um absurdo e espanta a
fauna".
O
pesquisador também criticou a exploração sem freios do petróleo no Estado.
"O pré-sal elegeu a baía de Guanabara como o centro de operações. Há
vários terminais, estaleiros, em virtude da indústria do petróleo, e uma
pressão para aumentar as áreas de fundeio, algo completamente absurdo, como em
áreas próximas às de proteção ambiental", denunciou.
Para o
presidente da Comissão Especial da Bahia de Guanabara, Flávio Serafini, o
aumento da presença frequente de barcos da indústria do petróleo tem sido pouco
discutido. "Hoje, sabemos que o perfil do uso da baía está em um processo
acelerado de mudança e precisamos aprofundar as questões a respeito dos
licenciamentos ambientais e estudos ambientais sobre a presença industrial
ali".
Fundador
do Movimento Baía Viva, o biólogo Sérgio Ricardo também destacou os efeitos
desse novo perfil da baía para os pescadores e os usuários do local. "A
baía está passando por uma reindustrialização, impulsionada pelo pré-sal e, com
isso, apenas 13% da superfície estão disponíveis para a atividade de pesca.
Estamos determinando, por causa do pré-sal, o fim da pesca da baía. Essa é uma
questão que temos que discutir", disse Ricardo.
Ele
acrescentou que estão sendo dragadas três a quatro áreas de lama do tamanho do
Maracanã e que 30% desse material estão contaminados por metal pesado, segundo
o Ministério Público Estadual. "É a verdadeira tabela periódica e é isso
que está acabando com a pesca e com os botos. O interesse do capital é que está
prevalecendo".
Flávia
Villela Da Agência Brasil
Custodio
Coimbra/Agência O globo
29.abr.2015
- Pesquisadores do departamento de oceanografia da UERJ estudam os botos
residentes na baía de Guanabara desde 1995. Na época centenas, hoje são 38
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