Não é
preciso fazer muitas contas para concluir que a seleção brasileira de
natação não foi bem nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Ainda faltam duas
finais, mas todo mundo viu, todo mundo sabe. Não que se esperassem muitas
medalhas, a minha previsão era apenas uma, mas a grande
maioria acabou piorando os tempos ao invés de melhorar. Muitas desculpas
podem ser dadas pelos brasileiros individualmente: pressão da torcida,
horário inadequado, o calor, a comida, Deus, a Vila, sei lá. São justificativas
razoáveis, e não estou sendo irônico. Mas é isso o que temos, e querendo ou
não, a seleção brasileira é formada nada mais nada menos pelos melhores
nadadores que temos hoje no Brasil.
Aí você
vai dizer: “ah, mas a Katinka, o Phelps, o Peaty, a Ledecky não sentiram nenhum
desses problemas!”. Isso é fato, inclusive a Katinka, a Ledecky e o Peaty
bateram recordes mundiais. Eles não sentiram nada disso, e obtiveram rendimento
máximo na final olímpica, que é o objetivo de todo nadador.
Fazer o
melhor tempo da vida na final olímpica é uma tarefa para poucos e bons,
e não é inédito para brasileiros, por exemplo:
Ricardo
Prado fez o seu melhor tempo ao ganhar a prata olímpica em 1984.
Gustavo
Borges tem seus melhores tempos de 100L e 200L em finais olímpicas medalhadas
em 1996.
Fernando
Scherer fez seu melhor tempo quando beliscou o bronze olímpico em 1996.
César
Cielo fez seu melhor tempo ao ganhar o ouro olímpico em 2008, e o melhor de
100L (WR até hoje) na final do mundial de Roma em 2009.
Thiago
Pereira fez sua melhor marca – adivinhem! – na final olímpica dos 400 medley em
que ele garantiu a prata em 2012.
Enfim,
alguns dos nossos nadadores já fizeram isso, embora com muito menos frequência
do que os americanos. Quais nadadores? Os gênios! Aqueles que são os mais
talentosos dentre os talentosos. Os quase sobrenaturais. O meu ponto aqui é que
muito poucos nadadores são assim. De vez em quando, por pura sorte, um desses
ultra-talentos pipoca por aqui.
Já nos
países que apresentam muitos talentos o tempo todo, como é o caso dos Estados
Unidos, é porque os talentos foram selecionados dentre muitos milhares de
nadadores. Nos EUA, em cada estado, em cada pequena cidade, seja nas
escolas ou em clubes, a criança tem muito estímulo para nadar,
mostrar seu talento e de um dia ser recrutado para a seleção. E de
milhões, se faz uma seleção só de craques. É uma questão de simples
estatística!
Aqui no
Brasil quantos são os centros de natação mirim-petiz? Que estados tem projetos
para as suas crianças? Quantas escolas têm piscina? Quantos patrocinadores
privados patrocinam o esporte de base? Quantos olheiros estão buscando talentos
em locais de baixa renda? Quais Federações têm recursos próprios e fazem
competições bacanas para a molecada? Quantas crianças estão na água? Fora a
Federação Aquática Paulista e mais umas poucas outras, a verdade é que as nossas
crianças não estão na água!
Portanto
a culpa dessa situação desoladora não é dos nadadores atuais, eles são os
melhores do Brasil e estão lá com méritos. O que está faltando é criança
na água!
Não sou
leviano em dizer que essa culpa tem nome e sobrenome: sr. Coaracy Nunes e a
sua CBDA, afinal essa turma está lá há quase trinta anos! Muito dinheiro é
gasto com o alto rendimento (olha o exemplo do Pólo masculino), para tentar
maximizar o número de medalhas, mas as Federações estão à míngua! Nenhum apoio
real da Confederação é empenhado em competições para crianças, a não ser em
alguns estados que se viram sozinhos. E as medalhas olímpicas, como vimos, só
acontecem quando aparece (por pura sorte) um desses gênios! E para
piorar, todo o dinheiro que está sendo usado hoje em dia vem quase exclusivamente
de UM patrocínio estatal (Correios), que já disse que o dinheiro vai
acabar… o que será de nós daqui para a frente?
Preparo
psicológico, treinamento de altitude, tecnologia de ponta, técnicos de
primeira, equipamentos de primeira linha, tudo isso a gente tem! Só falta
criança na água, e é justamente o que de melhor uma Confederação de Desportos
Aquáticos poderia fazer… e não está fazendo!
Essa
está longe de ser a única, tem outras, mas é a principal razão pela qual já
passou da hora de mudar: MUDA CBDA!
TEXTO Renato
Cordani - foi campeão brasileiro de natação.
site EPICHURUS
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