Foto 1
“Se
nadar apresenta-se como uma arte, o nado peito é sua obra prima”
Nenhum
filósofo renomado disse isso, fui eu mesmo quem inventou agora mesmo ….
(risos).
Brincadeiras
à parte, o nado mais lento da natação é também o mais “técnico e difícil”.
Controvérsias à parte, enquanto todos os outros nados utilizam-se de pernadas
similares (pés de bailarina), o nado peito é totalmente distinto, e tem uma
pernada “Sui generis” (pés de sapinho).
Apesar
de poucas pessoas saberem isso, o nado de peito foi o primeiro a ser
“inventado”, e por isso era conhecido como o “estilo clássico”.
O
estilo empregado no primeiro campeonato de natação realizado em 1837, na
Inglaterra, foi o nado de peito clássico, que era executado de lado e conhecido
como “braçada inglesa”, sendo considerado então o melhor nado livre. Na busca
de uma forma mais eficiente de nadar, o peito foi decaindo e dando lugar a
outros estilos, até o surgimento do crawl, onde se tornou a forma de nado livre
mais rápida conhecida até hoje.
Aliás,
até pouco tempo atrás (1953) o nado borboleta era nadado com pernada de peito.
Deixando
os dados históricos à parte, vamos ao que realmente interessa à vocês leitores.
Durante
minha carreira profissional como atleta olímpico de peito, vivenciei alguns
erros mais comuns que um nadador de peito pode cometer (muito cometidos por mim
e corrigidos pela análise biomecânica).
Vou
citar 5 deles que considero os mais comuns, e que consequentemente prejudicam
sua performance ideal:
1 – Na
primeira fase da pernada, promover uma flexão de “coxa sobre quadril”, ao
invés de “perna sobre coxa”:
Ainda
que pareça um erro corriqueiro entre os iniciantes ao nado de peito, eu mesmo
tive que praticar muito para melhorar esse ponto no meu nado. Trazer a coxa em
direção ao quadril em demasia, é um erro que causa um grande prejuízo à
fluência ao nado, pois cria uma “parede hidrodinâmica” que não permite a
passagem da água e anula o deslize do nado. O angulo ideal entre a coxa e o
quadril é na ordem de 120º.
Percebam
pela sequência abaixo (retirada de uma avaliação biomecânica que fiz em 2001),
que eu cometia esse erro. Após muito exercícios técnicos para correção dessa
falha, tive uma melhora significativa nos meus tempos. Apesar de manter meu
quadril sempre alto (algo positivo), minha flexão de coxa sobre quadril estava
muito acentuada, prejudicando o deslize do nado.
Foto 2
Aliás,
realizar esse movimento com essa precisão “cirúrgica” de 120º, requer não só
muito treino e técnica, mas uma boa flexibilidade, algo de deve ser
especificamente trabalhado.
Vejamos
o “angulo perfeito” em ação:
Foto
3
2
– Na segunda fase da pernada, promover uma abertura excessiva entre os joelhos:
Depois
de preparada a pernada (1ª fase), para realização da finalização ou “coice”, a
abertura das coxas (2ª fase) é outro ponto de atenção muito importante. Abrir
(ou separar) as coxas em excesso, pode ocasionar uma perda na força da pernada.
Como se
não bastasse, além de produzir uma menor propulsão (por não contribuir para
aplicação ideal da alavanca – teoria de Arquimedes), a abertura em demasia pode
“retardar” o timing do nado, prejudicando toda a fluência do nado que é
extremamente importante. Nesse caso, o angulo ideal entre os joelhos é de 45º:
Foto 4
Obviamente
que um bom trabalho para melhor o primeiro erro, automaticamente irá ajudar a
corrigir esse segundo, eles estão intimamente conectados, apesar que não
necessariamente “caminhem juntos”.
3 – Na
primeira fase da braçada (varredura para fora), iniciar o movimento antes de
finalizar a pernada (o fator “X”):
No nado
peito, quase tudo se resume ao TIMING. O momento correto de iniciar um
movimento apos a finalização do anterior pode ser crucial e determinante para
um nado mais rápido, mais fluido e menos cansativo. Aproveitar cada movimento,
sua propulsão e seu deslize, procurando perder pouca velocidade de nado entre a
braçada e a pernada, é um dos grandes desafio do nado peito.
O fator
“X” é um grande responsável pelo timing incorreto. Iniciar a braçada (com a
varredura para fora), antes mesmo de finalizar completamente a pernada é um dos
erros mais comuns quando tentamos acelerar o nado em provas curtas de
velocidade. Tomei a liberdade de nomear esse erro de fator “X” pois o retrato
dessa falha está na foto abaixo:
Foto 5
Se
traçarmos uma linha reta entre a mão esquerda e o pé direito, bem como entre a
mão direita e o pé esquerdo, temos exatamente um “X” desenhado.
Como
podem ver na foto acima, na mesma avaliação biomecânica que realizei em 2001,
constatamos que quando eu acelerava o nado, o fator “X” surgia com de forma
clara e explícita. Foram necessários muitos educativos e muita concentração e
foco nas séries aeróbicas para corrigir esse erro. Um bom “parâmetro” para
ajustar esse problema é: apenas inicie uma braçada depois de encontrar (tocar)
um pé no outro ao final da pernada. Será fácil fazer isso devagar (treinos de
A1), contudo, bem mais difícil nas séries anaeróbicas e de velocidade.
Quem
nunca ouviu algum peitista dizer que “patinou muito nos metros finais na
prova”. Geralmente ela acha que isso acontece porque estava cansado, quando na
verdade isso ocorre por “simples” afobamento do atleta em iniciar uma braçada
no tempo incorreto (antes de finalizar a pernada).
Nem
sempre fazer movimentos mais “rápidos” lhe trará um nado mais veloz. Não
aproveitar bem a pernada e iniciar a braçada muito cedo é um dos grandes vilões
para a tradicional “patinada”.
4 – Na
segunda fase da braçada (puxada), não manter os cotovelos altos:
Apesar
da maior propulsão do nado peito estar concentrada na pernada, uma braçada
executada de forma imprecisa pode prejudicar o restante do nado, inclusive a
eficiência da pernada.
Para
que consigamos ter um bom nado e uma boa propulsão de perna, é muito importante
que o quadril permaneça sempre alto, quase que no limiar da superfície. Na
foto abaixo, temos uma sequência de imagens do ex-campeão mundial Patrick
Isakson:
Foto 6
Um
grade “vilão” da queda do quadril, é a posição dos cotovelos. Se eles não se
mantiverem sempre altos, será inevitável impedir a queda do tronco, e
consequentemente a queda do quadril.
Por
essa razão, as fases iniciais da braçada devem sempre serem realizadas com os
cotovelos altos, e em menor velocidade de execução. Contudo, em determinado
momento, o nadador de peito terá que fazer a recuperação da braçada, momento em
que irá unir os cotovelos para realizar o “arremesso das mãos à frente”. Esse
segundo movimento deve ser o mais rápido possível, evitando que a “inevitável
queda dos cotovelos” ocasione a queda do tronco e do quadril.
Abaixo
trago uma imagem minha de 2001. Esse foi sempre um ponto positivo no meu nado.
Constatamos na referida avaliação biomecânica de 2001, que meus cotovelos
permaneciam sempre bem altos, permitindo que o meu quadril ficasse também alto
e na profundidade ideal durante todas as fases do nado de peito:
Foto 7
5 –
Erguer a cabeça (olhar para frente) de forma precipitada logo após iniciar a
braçada (varredura para fora):
Na
natação em geral, qualquer movimento em desacordo com a hidrodinâmica irá
ocasionar uma perda de velocidade e consequentemente um gasto desnecessário de
energia. Mas em um nado bastante técnico, detalhista e lento como o peito,
esses pequenos “vacilos” de posicionamento e alinhamento parecer ficar mais
evidentes.
Todos
sabem que no “streamline” (posição de deslize após a saída e viradas), a cabeça
deve estar abaixada e “escondida” entre os braços, fazendo uma “flecha” com as
mãos à frente:
Foto 8
No nado
peito, ao final de cada pernada, o atleta deverá manter uma posição bastante
similar ao “streamline”. Assim, manter a cabeça em um posição reta (olhando
para baixo) durante a varredura para fora, passa a ser uma ponto de muita
atenção.
Olhar
para frente logo após o início da braçada (varredura para fora), ocasiona uma
grande perda hidrodinâmica, e é um erro muito comum cometido até mesmo por
atletas mais experientes, pois passamos a sentir a necessidade de respirar e
nos posicionar na superfície (principalmente quando já está mais cansado ao
final da prova).
O ideal
é “atrasar” esse movimento da cabeça (de olhar para frente), realizando ele
somente após finalizada a varredura apara fora, procurando aproveitar ao máximo
a posição hidrodinâmica da cabeça “olhando para baixo” (streamline):
Foto 9
Espero
que essas dicas possam ajudá-lo a nadar mais rápido e com maior economia de
energia.
Aos
colegas nadadores Masters, lembrem-se: Nunca é tarde para aperfeiçoar seu nado
com educativos.
UM
ABRAÇO!
FISCHER.
Autor
Eduardo Fischer, catarinense e natural de Joinville. Ex-Atleta Olímpico de
natação da seleção brasileira e medalha de bronze no Mundial de Moscou, Fischer
defendeu o país em dois Jogos Olímpicos (Sydney/2000 e Atenas/2004), 6
Campeonatos Mundiais e 1 Pan-Americano (Prata e Bronze). Bacharel em Direito e
Advogado pela OAB/SC, Eduardo é especialista em Direito Empresarial pela PUC/PR
e em Direito Tributário pela LFG/SP. Atualmente aposentado das piscinas,
trabalha com Consultoria Tributária em um respeitado escritório de Advocacia
(CMMR Advogados).
Publicado por Francismar Siviero
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