Acomodada
em uma cadeira de sol de frente para uma das piscinas do Esporte Clube
Pinheiros, em São Paulo, Izabella Maizza Chiappini mergulha batatas fritas em
um copo plástico repleto de maionese esverdeada pelos temperos. Atleta do clube
e da seleção brasileira de polo aquático, ela mastiga e fala pelos cotovelos,
como se tímida não fosse. A fome a atormentava havia algum tempo e a sensação
de saciedade após uma breve sessão de fotos fazia com que a jogadora agisse
contra a própria natureza. Não haveria outra explicação, se considerarmos o
depoimento da mãe, Raquel Maizza Chiappini. “A Iza sempre foi envergonhada”,
afirma. “Não ligava para pedir pizza pelo telefone porque tinha vergonha de
falar com o atendente.” Encabulada, a pequena também fazia o irmão mais novo
comprar sorvete para ela e tinha vergonha até de dar um “oi” para o técnico com
quem trabalhava todo dia.
Em
menor grau, é com timidez que essa paulistana de 20 anos ainda funciona fora da
piscina. Mas procure na internet alguns vídeos de Izabella jogando polo
aquático e tente reconhecer nela esse acanhamento todo. Com maiô, toca e bola
nas mãos, a jovem atleta não se esconde, não. Pelo contrário. Filha de atletas
– a mãe jogou polo e o pai, Roberto Chiappini, também ex-jogador, hoje é
auxiliar técnico da seleção feminina –, ela foi condicionada a não ficar na
defensiva e explorar na máxima potência as habilidades durante o jogo. E
Izabella tem feito a lição de casa direitinho. A brasileira, hoje, é a
melhor jogadora de polo aquático do planeta atuando na linha.
Atacante
da seleção, ela ficou em segundo lugar na eleição da revista Water Polo World,
divulgada no início do ano. A publicação especializada analisou o desempenho
das atletas na temporada de 2015. Como o prêmio principal ficou com a
goleira americana Ashleigh Johnson – a votação foi apertada, 561 votos contra
528 da brasileira –, não há no mundo, atualmente, uma jogadora de linha melhor
do que a brasileira. “Fiquei surpresa quando um amigo me disse que eu estava na
lista de indicadas”, afirma ela. “Como o Brasil não briga entre os
melhores do mundo, não achávamos que uma brasileira poderia ter chance”, diz a
mãe, Raquel. A premiação dessa conceituada publicação é considerada a
principal do mundo, uma vez que a Federação Internacional de Natação (FINA) não
promove votação parecida para eleger, anualmente, os melhores da modalidade.
A Water
Polo World justificou a posição da atleta nacional dizendo que ela é “a
principal responsável por puxar o time brasileiro”. De fato, Izabella é uma
atacante implacável. Daquelas artilheiras capazes de carregar uma equipe
nas costas. Em 2015, nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, o Brasil
conquistou a medalha de bronze graças, em grande parte, aos 22 gols
anotados pela atleta do Pinheiros. A brasileira foi a artilheira do Pan. Meses
depois, no Mundial de Esportes Aquáticos de Kazan, na Rússia, a seleção
nacional ficou na 10ª colocação Izabella marcou 17 gols em seis jogos (quinta
maior goleadora do torneio).
Nos
bastidores da modalidade, comenta-se com frequência que Izabella responde por
metade do poder de fogo do time do Brasil. A rapidez para puxar o contra-ataque
e a precisão na hora da finalização são suas principais armas. Daniela Raddi,
ex-jogadora da seleção de polo que atuou ao lado da mãe de Izabella, reforça
outra característica da jovem atacante. “Ela sai com meio corpo fora da água no
ato do chute, o que amplia a sua visão”, diz Daniela, que mostra pelo celular
uma foto de Izabella concluindo uma jogada. “Parece que tem uma cama elástica
debaixo da água me empurrando para cima”, afirma a atleta. Para o canadense
Patrick Oaten, que há dois anos treina a seleção feminina, a atacante entende o
jogo como uma veterana. Tudo isso com apenas 20 anos de idade. Muita
responsabilidade para alguém tão jovem? “Não penso nisso. Foco em jogar no
máximo das minhas possibilidades, ser a número 1 do mundo e ganhar uma medalha
olímpica”, diz Izabella, que aparenta não se deslumbrar ou dar tanta
importância aos seus feitos.
Precoce,
ela foi, aos 15 anos, artilheira do campeonato brasileiro adulto e, por causa
do desempenho, acabou convocada para a seleção principal pela primeira vez. No
ano seguinte, no Mundial Júnior de 2012, foi vice artilheira, mesmo tendo
disputado um jogo a menos do que as concorrentes, e figurou na lista do All
Star Team da competição. “Naquele torneio, eu fazia de 5 a 8 gols todo
jogo e nem estava me tocando de que o desempenho estava acima da média”,
afirma ela, que começou no polo aquático batendo bola entre homens. “Quando
iniciei, aos 12 anos, eu odiava o polo. Jogava no meio dos rapazes e
achava o esporte muito chato. Aí resolvi parar”, afirma.
Os pais
da atleta a obrigaram a escolher outro esporte. Izabella passou, então, a
praticar ao mesmo tempo natação e handebol. “Era como um polo separado em duas
modalidades. Em um eu aperfeiçoava a natação, e no outro, o chute.” Um ano
depois, assistindo a um campeonato de polo aquático na arquibancada,
empolgou-se ao ver meninas da sua idade jogando e decidiu retornar à antiga
modalidade. Hoje, a vida dela não é nada mole, sendo filha de um treinador de
polo e uma ex-atleta da seleção brasileira. “Durante o Pan de Toronto, minha
mãe ligava me xingando, reclamando porque eu não tinha chutado mais ao gol. Só que
ela viu informações no site da competição e os dados estavam errados”, diz
Izabella, que foi bronze também no Pan de Guadalajara-2011. “Fiquei possuída”,
afirma Raquel, a mãe da atleta.
Roberto,
pai de Izabella, também sempre foi exigente com a filha. “Quando era meu
técnico, ele me mandava embora de treino o tempo todo, me xingava,
pegava no meu pé”, afirma. Uma vez, ele atirou uma garrafa de água na piscina
para me acertar, só que errou. Não contente, pegou um cone para jogar em mim,
mas foi impedido”, diz a atacante, aos risos. Agora, como auxiliar,
Roberto está mais tranquilo nas cobranças. Izabella ficou, recentemente, cinco
meses parada por causa de uma lesão no ombro direito. Uma
cirurgia foi indicada para a atleta, que preferiu sessões diárias de
fisioterapia no Brasil para não ficar de fora da Olimpíada do Rio de Janeiro.
Pouco antes da contusão, tinha recebido proposta para defender um time italiano
na liga de polo aquático daquele país, mas declinou.
Izabella
também disputou o campeonato universitário americano de polo. De janeiro de
2014 a maio de 2015, a brasileira morou nos Estados Unidos e cursou algumas
matérias na Universidade Estadual do Arizona, de olho no curso de design
gráfico, além de competir pelo time da faculdade. Foi quando esteve por lá que
recebeu o convite para disputar a liga italiana, bem mais forte do que o
torneio americano em que competia. De volta ao Brasil, mergulhou na preparação
junto da seleção de olho nos Jogos do Rio de Janeiro. Será a primeira vez que o
polo aquático feminino brasileiro estará em uma Olimpíada. E a meta
estabelecida pela Confederação Brasileira de Esportes Aquáticos (CBDA) é a sexta
colocação na competição. “Tem dias em que eu sonho que estou jogando na
Olimpíada”, diz a atleta, que, como precisa recuperar dois quilos que perdeu em
viagem recente à China, segue atacando a porção de batata frita com maionese
sem vergonha alguma
Crédito
Rodrigo Cardoso fotos Jonne Roriz
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