Velejadores
estrangeiros presenciam chuva de balas de fuzil na Baía de Guanabara e sentem
na pele o problema da insegurança, uma preocupação para a Olimpíada
O
primeiro susto olímpico de velejadores estrangeiros no Rio, já se aclimatando à
cidade, veio do contato com as águas da Baía de Guanabara, o cartão-postal que
sediará as competições de iatismo em agosto. Ao contrário do prometido, a baía
ainda estará imunda. O segundo choque deu-se na terça-feira passada. Atletas de
quatro equipes - Dinamarca, Grã-Bretanha, Irlanda e Nova Zelândia -
preparavam-se para o treino quando brotou um tiroteio. Uma bala chegou a cravar
no muro do clube onde estavam. Outras caíram n'água. Em pânico, eles correram
em busca de abrigo. A triste cena aconteceu em Niterói, cidade vizinha ao Rio,
também às margens da Guanabara, onde já há intenso frenesi de competidores
adaptando-se às condições locais. Entendam-se por condições locais o clima, os
ventos, as marés - e, deve-se incluir, a barbárie.
O que
os velejadores presenciaram foi mais uma cena de bangue-bangue entre o tráfico
e a polícia. O enredo, já tão banalizado, poderia ter passado em branco, não
fossem as testemunhas um grupo de atletas olímpicos. Tentou-se abafar o
assunto, pelo evidente risco de repercussão internacional. VEJA teve acesso aos
detalhes do episódio. Seguiram-se ao horror do tiroteio reuniões em que os
estrangeiros cogitaram trocar de sede. Como já haviam pago a conta em Niterói,
porém, acabaram decidindo ficar ali, pelo menos por ora. Foram acionados o
Comitê Olímpico dinamarquês e o Comitê Rio 2016, que promete passar à área da
segurança um mapa sempre atualizado de onde os atletas estão. Até a última
sexta- feira, o pedido de reforço policial, de responsabilidade do governo do
estado, não havia sido atendido. De imediato, a rotina mudou. "Nós nos
hospedamos perto do clube, íamos a pé para lá. Agora, só de táxi", diz o
técnico da Dinamarca, Peter Hansen.
Os
clubes niteroienses, Iate e Yacht, são emoldurados pelo Morro do Cavalão, que
entrou no mapa da violência por abrigar a bandidagem que deixou favelas
ocupadas por Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). No episódio de
terça-feira, os marginais reagiam com seus fuzis a uma operação de rotina.
"Foi uma experiência desagradável e um lembrete de que a segurança não é
tão grande como na Dinamarca", escreveu em sua página no Facebook a
velejadora dinamarquesa Anne-Marie Rindom. O velejador brasileiro Torben Grael,
dono de dois ouros olímpicos, que incentivou as delegações a optar por aquela
base, revelou constrangimento: "Aguardamos medidas de segurança por parte
das autoridades". Que elas valham para os Jogos e depois deles.
S.O.S.
- Delegações da vela, como a da Dinamarca, pedem amparo às autoridades(GUITO
MORETO/Agência o Globo)
Fonte
Revista Veja
Por: Leslie
Leitão
SUDAMERICANO DE MALDONADO
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